16 de fevereiro de 2011

Plutão: a discussão continua

Bem, há tempos que tenho este blog, mas nunca postei nada. Mas ao colaborar com os amigos do clubedavilaap.blogspot.com senti vontade de tocar esse blog. Andei pensando em um título legal para iniciar. Então resolvi escrever uma espécie de "breve história de Plutão". Irei contar como se deu a descoberta e todo o processo de discussão a respeito de ele ser ou não ser um planeta. Observei que ficou um pouco longo, mas valerá a pena ler até o fim para que você entender todo o processo. Obrigado e então vamos lá.

Plutão e suas luas: Caronte, Nix e Hydra (foto NASA).

A discussão a que me refiro no título deste post diz respeito a antiga discussão sobre Plutão ser ou não um planeta. Tudo teve início em 18 de fevereiro de 1930 quando Clyde Tombaugh – utilizando um novo método de placas fotográficas – descobriu o nono planeta do Sistema Solar que posteriormente viria a ser conhecido como Plutão, o deus das profundezas na mitologia romana (conhecido como Ades na grega) em alusão a sua posição nos confins do Sistema Solar.
            A notícia da descoberta de Plutão tomou conta dos noticiários da época, tanto que o jornal The New York Times chegou a promover um concurso para a escolha do nome do novo planeta. Tal “estardalhaço” explica-se pelo fato de Percival Lowell ter previsto teoricamente a existência deste astro, pois a hipótese mais provável para explicar as perturbações gravitacionais que interferiam na órbita de Netuno seria a existência de um nono planeta no Sistema Solar, ou seja, a descoberta de Plutão já era – de certa forma – esperada. Depois de algum tempo descobriu-se que na realidade Plutão não tinha massa suficiente para causar as perturbações gravitacionais anunciadas na órbita de Netuno e que essas discrepâncias ocorriam devido a um erro no cálculo da massa da Netuno. Feitas tais correções, perceberam que tudo se “encaixava” corretamente e que Plutão pouco tinha a ver com isso.
            Começava então, a “temporada de caça as bruxas” contra Plutão. Além de perceberem que Plutão não era o causador das perturbações gravitacionais sofridas por Netuno, pesava contra ele o fato de ter sua órbita muito inclinada quando comparada aos demais planetas clássicos (os internos ou rochosos: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte e os externos ou gigantes: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno), para se ter uma idéia, considerando apenas os “planetas clássicos”, a órbita mais inclinada em relação ao plano da eclíptica é a de Mercúrio com 7°. Já a de Plutão tem inclinação de aproximadamente 17,2°. Isso sem contar a sua órbita bastante excêntrica (pouco circular). Tudo isso fez com que parte da comunidade científica começasse a questionar o status de planeta dado a Plutão.
Note a inclinação e a excentricidade bastante acentuada na órbita de Plutão. Observe também que em determinado momento, a órbita de Plutão atravessa a de Netuno sendo necessários vinte anos para sair dela. (Ilustração: Observatório Nacional)


Plutão é menor do que a nossa Lua, menor do que Io, Ganimedes, Calisto e Europa (satélites de Júpiter), entre outros, possuindo apenas 2274 quilômetros de diâmetro. Embora seja pequeno – característica essa dos planetas rochosos ou internos – Plutão não é um deles e embora seja gasoso não é gigante. Juntam-se a isso as descobertas de objetos trans-netunianos (região exterior a órbita de Netuno), região esta onde Plutão está localizado, sendo que alguns destes objetos possuem tamanhos comparáveis ao de Plutão. Essa grande faixa de objetos trans-netunianos onde Plutão está localizado – semelhante ao cinturão de asteróides entre Marte e Júpiter – é conhecida como cinturão de Edgeword-Kuiper (normalmente chamado simplesmente de cinturão de Kuiper).

Note que Plutão, em sua órbita, está sempre passando por outros astros. É como se sua órbita estivesse “poluída”. (Ilustração: Observatório Nacional)

Em 2005, quando foi anunciada a descoberta de Éris essa discussão esquentou de vez. Estimativas preliminares davam indícios de que Éris era maior do que Plutão. E agora? Deviam os astrônomos considerar Éris o décimo planeta do Sistema Solar ou “desclassificar” Plutão dessa categoria?
            Vale lembrar que Éris é a deusa da discórdia na mitologia grega. Nome bastante apropriado pelo visto! Pois a sua descoberta pode ser considerada como, digamos, o estopim dos embates que estavam por vir a respeito da questão de Plutão ser ou não ser um planeta.
            Se Éris fosse o décimo planeta, abriria precedentes para que Ceres (o maior dos asteróides) e Caronte (satélite natural de Plutão) também fossem classificados como tal. Saltando o Sistema Solar de seus nove planetas para doze!
            Finalmente, em 24 de agosto de 2006, na XXVI Assembléia Geral a União Astronômica Internacional, os astrônomos resolveram normatizar a questão e estabelecer critérios para que um corpo fosse classificado como planeta, pois com o desenvolvimento de novas tecnologias e equipamentos sofisticados, a expectativa era de que o número de objetos comparáveis e/ou maiores do que Plutão fossem descobertos e consequentemente o número de planetas passasse dos nove conhecidos para mais de algumas dezenas.
            É curioso notar que apesar de séculos de estudos não havia – até então – critérios para que um corpo fosse classificado ou não como planeta!
            Então ficaram estabelecidos os seguintes critérios para um corpo ser considerado planeta: a) orbitar o Sol; b) ter massa suficiente para que sua autogravidade supere as forças de rigidez e o mantenha com formado quase esférico; c) tenha “limpado” a região de sua órbita; d) não seja um satélite.
            Dessa forma, Plutão que não passa de um objeto notável no Cinturão de Edgeword-Kuiper, juntamente com Éris, foram classificados em uma subcategoria. A categoria de “planeta-anão”. A eles, juntam-se: Ceres, Makemake e Haumea. Ouso dizer: por enquanto!
            Lembre-se que tomaram a decisão de criar critérios para um corpo ser classificado como planeta quando estimativas iniciais indicavam que Éris era maior do que Plutão, pois isso abriu a possibilidade para que novos planetas fossem “adicionados” ao Sistema Solar. Para manter o Sistema Solar com apenas os oito planetas clássicos criaram a categoria de planeta-anão. Para alguns críticos isso se justifica pelo fato de alguns astrônomos considerarem esses planetas (os clássicos) especiais, para outros o aumento no número de planetas do Sistema Solar iria provocar um colapso no sistema de ensino, pois seria praticamente impossível ensinar características de todos os planetas aos alunos.
            Mas algo novo aconteceu. Segundo matéria publicada no Folha.com no dia 17/01/2011, o grupo de astrônomos que é liderado por Bruno Sicardy encontrou evidências de que Éris é menor do que Plutão. “Claramente menor”, segundo Alain Maury, que participou das pesquisas realizadas no Observatório San Pedro de Atacama, no Chile. (Leia a matéria na íntegra em: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/861597-rebaixamento-de-plutao-pode-ter-sido-precipitado-dizem-astronomos.shtml)
            E agora, deveria Plutão ser reconsiderado planeta? Ou deveria continuar como está?
            A resposta, aparentemente é simples. Independente de Éris ser ou não maior do que Plutão, este não “limpou” a região de sua órbita. É o que diz Roberto Costa do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP). Logo, não cumpre um dos requisitos para ser considerado planeta.
            Como disse no início deste post, a discussão continua e pelo visto, está longe de acabar! Mas independente disso, Plutão continuará sendo sempre este objeto fascinante.

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